domingo, 28 de abril de 2013

Não faço distinção
Tampouco sou danoso
Também não ergo a mão
Para quem é impreciso

Fico deveras inquieto
Quando vejo um sonso
Que mal sabe o que é gueto
E carrega aquele ranço

Pode me faltar amparo
Nem tudo digiro
Talvez seja pura estirpe
Do meu naipe

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Desdobramento II

Quando olho pra trás
E lembro do que não fiz
Acredito no meu algoz
E por vezes abri mão da paz

Por conta da realidade inóspita
E meu topete de calopsita
Não olhei com calma
Como se estivesse em coma

Mas a linha equidistante
Que coexiste
Faz seu papel a parte
Enquanto aumento o porte

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sábado, 27 de abril de 2013

Belo approach

Não é qualquer catacrese
Ou a falta de versos
Do tal abismo que cresce
A cada novo passo
Ou do lado do avesso

Que vai me deixar inerte
Como jacarés na lama
Ou alguém que insiste
Em andar com plumas
E não cuidar da alma

Mesmo na falha
Não vou perder o traço
Nem usar navalha
Na hora do abraço
Com se estivesse no osso

Ataco pela frente
Sou o que vislumbro
Não estou no fronte
Não por culpa do ombro
Ou do que não lembro

Longe dos finalmentes
Próximo do eixo
Antes que eu apronte
Anteciparemos o desfecho
Com um belo approach
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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Confronto

Nem toda rima
É tão controversa
Quanto guerra e trégua
Quanto morte e sorte
Ou facilmente versa
Como hífen e hímen
Ofício e orifício
Como verbos no infinitivo
Que grudam como ima
Como sentimentos primitivos
Do ser
Que perde o poder
E usa a fala
Como uma arma tosca
Sem a simetria da mandala
Ou a métrica rebuscada
E deixa de lado a busca
Pela harmonia
E quebra as engrenagens
Por manhas e manias
Ou pela autoimagem
Que não reflete
Como vampiro
E não reconhece o flerte
Com incontáveis suspiros
No pé da orelha
Porque dissimula
O que é insípido
Se faz de ovelha
Pra parecer mais um
No álbum
De qualquer família
Onde nem toda prosa
Rima

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sábado, 20 de abril de 2013

Diáfano

Todo transeunte
Que observo
Não me parece transparente
Diante do que absorvo

Quando olho pra dentro
Do inverso do lado de fora
Sei que agora sou outro
Pra ir as forras

Agora sou quem me vê
Tirando proveito
Como se fosse uma TV
Imitando seus trejeitos

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quinta-feira, 18 de abril de 2013

Tique

Os meus cacoetes
E incontáveis paranóias
As vezes são blefes
Como o Cavalo de Tróia

Minhas negligências
Com mudanças tardias
Ou por tendências
Que não evitam tragédias

Podem parecer descaso
E comprometer o vínculo
Quando chego atrasado
Sempre acho o cúmulo

É fácil depreciar
Uma boa conduta
O fato é que perco o ar
Mas não fujo da luta

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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Via

O que de fato me trouxe
Até os dias de hoje
Não foram os trouxas
Ou nada que me enoje

Peguei alguns atalhos
Quando o caminho era torpe
Ainda assim tenho orgulho
De atravessar a tal ponte

Sempre há um túnel
Mesmo com difícil acesso
O limite é o céu
Sem excessos

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domingo, 14 de abril de 2013

Condição

Ninguém te idolatra
Por ser alcoólatra
Ter medo das escolhas
Feitas dentro da velha bolha

Os famosos vícios
Que talvez qualquer um tenha
São prováveis indícios
Do que de fato te sustenta

Você é a prova
De todas as balas
Mesmo com o pé na cova
Ainda tens o dom da palavra

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Pedra

De tanto procurar defeitos
Achou uma brecha
Bem no meio do peito
E impôs ao coração: Não se mexa!

Ficou tarde
Para manipular o músculo
Que controla o cérebro
Mesmo quando arde

A razão entende quê
Sempre há um lado fake
Pra reduzir a palpitação
De um corpo em erupção

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Corte

As enumeras falhas
Da minha barba
Não foram feitas com navalha
Nem mágica tipo 'abracadabra'

São marcas de angústia
Como cicatrizes na alma
Sem falsa modéstia
Representam traumas

Cada novo pelo branco
Que nasce no meu rosto
Evidencia tropeços e trancos
Do que é pressuposto

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Base II

Reconstruímos os alicerces
Com base nas dúvidas
Mesmo que o fogo cesse
Ainda comemos carne moída

Nos tornaram humildes
Agradecemos de coração
Sei que você não aplaude
Normal pros sem noção

Num futuro próximo
O passado vinga
Um presente ótimo
Que o amor não se extinga

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Salto

Ajo por impulso
Sou irracional
Penso logo surto
Caminho pela diagonal

Não creio no lógico
Não quero acabar caduco
A razão é algo longínquo
Coloco emoção em tudo

Pra entender de vez
O que meu olhar representa
Não se faça de algoz
Como aqueles que dão a sentença
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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Fábula

Todos os passos
Mesmo que de formiga
Aparentemente passivos
Não são para fugir da briga

Muito pelo contrário
São um minucioso estudo
Dos meus adversários
Que são como ursos, parrudos

Minha memória de elefante
Tem seus défices
Mas ainda é eficiente
Contra os imbecis

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terça-feira, 9 de abril de 2013

Raízes

De modo repentino
Sem medo das vertigens
Agora perto do pântano
Talvez seja minha origem
Todo dia na fotossíntese
Em busca de luz
O caminho é esse
Que outrora supus
Pra não ir pelo ralo
Ou padecer num gargalo
No fundo do poço
Rezamos o terço
Pois a fé ainda existe
Mesmo que por dentro
A gente ainda resiste
Por mais um bom tempo

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domingo, 7 de abril de 2013

Não dou desculpas
Pra vender minha alma
Sei quem me usurpa
E me faz perde a calma

Quanto a velha mídia
Estou imune
Por não fazer média
Com gente impune

Deixo os bitolados
De lado
Discuto política
Com ética

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sábado, 6 de abril de 2013

%

Vai surtindo efeito
Mesmo estando afoito
Por qualquer conquista
Ou por ser anarquista
Indo contra o fatídico
Mais perto do Atlântico
Ou noutras terras
Com atitudes esmeras
Às vezes a rima erra
Por conta dessa nova era
Nem todo pão é dormido
Coração por hora partido
Coisa de romance
Bem longe do meu alcance
Cansando do improviso
Nem tudo faz sentido
Exceto meus defeitos
Sou 15% perfeito

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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Rafa city

Moro numa cidade fantasma
Onde o clima me da asma
Minha vista vive turva
Onde o vento faz a curva
Ser burguês é algo lógico
Gente pobre vota em rico
Tudo me lembra um hospício
Toda esquina é um precipício
Vivo vendo vultos
Gente estranha indo pro culto
Ser humano é um defeito
Quem mata leão é que é perfeito
Esperto é o burro de carga
Se borra e não segura as pregas
Qualquer um é famoso
Ninguém cumpre prazo
Chegar atrasado é bonito
Idiota vira mito
Protestar é cafona
E a culpa é sempre da azeitona

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terça-feira, 2 de abril de 2013

O vácuo
Ou o ócio
São os habitáculos
Do meu propósito
Quando abdico
De algum hobby
Vejo que meu histórico
Me absorve
Respeito rotina
Pode ser uma sina
Mas não abro mão
De agir em vão
Ser feliz ao acaso
Sem pensar no próximo passo

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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Ciano

Adeus aos intempéries
Daquela antiga terra fértil
De sorrisos com cáries
Onde quem dominava era réptil

Famoso era o mercenário
Com sua plumagem de pavão
Antes tivesse saído do armário
A se travestir de irmão

Longe de ser um mecenas
Com as asas abertas
Interligadas por antenas
E enumeras portas

Não adianta mudar o passado
Se deixar levar pelo vento
O que importa é um novo traçado
Independente do consenso

Ideias ficaram nas nuvens
Como arquivos de gelo e raios
Não quero mais ser alguém
Como um ator nos ensaios

Estações não tão bem definidas
Como passagens só de ida
Porém, toda tempestade passa
Mesmo as de copo d'água

Ontem tive uma catarse
Olhando pro Deus amarelo
Sempre fazendo lindas poses
Com semblante singelo

Percebendo que somos a fonte
Como aquela, da juventude
Temos nosso lado infante
Somos os soldados, rudes

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