quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Que a alma corroa
E não seja atoa
O corpo insiste
Em viver sem limites

Ligamentos desfeitos
Não perdi meus trejeitos
A dor permanece
Se você não esquece

Fingir é um remédio
Para nosso demérito
Enquanto hesito
Tenho êxito

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domingo, 28 de outubro de 2012

Ensaio a vida real
Por hora perco o foco
Me mantenho natural
Mesmo usando óculos

Dilacero a carne
Como um animal
Nem tudo é arte
Não sou imortal

Submundo afora
Jaja me encontro
Sei quem me adora
Não sou nenhum monstro
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sábado, 27 de outubro de 2012

Ovo com jiló

No meu hábitat
Onde melhor interajo
Meu zelo se reparte
Em humildes relicários

Aqui nesse reduto
De chão impermeável
Registro viadutos
Sou sempre amigável

Levei um tombo
Tombo tão longo
Que parou o tempo
E meus pensamentos

Nesse estágio
Me lembrei dos plágios
Haja reflexão
Perdi a conexão

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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Rima simples
Nada de enigmas da esfinge
Cada um tem o seu timbre
No papel, voz ou vitrine

De tão rebuscado
Ficou indelicado
Sem compreensão
Manifestou-se em vão.

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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O que é pior?
Hospital ou tribunal?
Ou seria o carnaval?
Melhor ser sazonal
Evitar o sal
Curtir sarau
Fugir numa nau
Fazer cara de mau
Me manter autoral
Comer arroz integral
Ser sideral
Não ser cara de pau
Pra ter seu aval
E coisa e tal.
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domingo, 21 de outubro de 2012

Ora ora
Não me venha com o que é relativo
O tempo não existe
Foi inventado pelos oprimidos

Outrora
Quando o tempo passava
Ninguém percebia
Que era de fato quem te matava

Agora
Que não há mais tempo a perder
Ele foi reinventado
Pra nos manter separados.
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sábado, 20 de outubro de 2012

Não perco tempo
Com as horas
Fico tenso
Quando fecham-se as portas

Sobrevivo o momento
Em vão as forras
Ao menos
Meu corpo acorda

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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Autorretrato de heterônimo alheio

Se fez de ARROJADO
SUBJUGOU seus aliados
Agora se faz de VÍTIMA
Pra FUGIR das críticas

FRACASSOS aprimorados
De um FINAL lastimável
O IMPORTANTE ficou de lado
No caminho, IMÓVEL.
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domingo, 7 de outubro de 2012

Raul

Um certo cheiro
De uma única cor
Num prato translúcido
Que por debaixo dos panos
Revela seus planos
Que não causa danos
Pois já estamos imunes
E orgulhosos do nosso
Grandioso fracasso
Que foi contra a lógica
Da coletividade única
Onde uma cabeça perturbada
"Pensa" (pensar) melhor que várias
De gente amordaçada
Que então descobre
Combater o mal
Pra não enlouquecer
E mesmo sem aval
Grita sem medo:
Vai se fuder!
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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Clima

Não vai dar tempo
De terminar o texto
Esse tormento
Me torna suspeito

O que proponho
É o que não publico
Rima fácil com sonho
Creio que somos oblíquos

Sabe aquela vez
Que você não lembra
Era seu principal freguês
Recitando temas.

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