sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Hoje, ontem e amanhã

O mundo pra mim hoje está mais claro do que nunca, e muito mais complexo. Está muito vivo na minha memória a guerra entre os Comandos em Ação e os Cobras no quintal lá de casa. O bem continuou a triunfar sobre o mal nos happy end de Hollywood, recorrendo a super hérois ou não. Mas vieram os filmes de conspiração onde entidades do bem na verdade eram muito más. Desde então fiquei com a pulga atrás da orelha. Os filmes “cult” e as músicas hippies (Caetano, Chico, Dylan, Stones...) do meu pai me distraiam do destino de consciência padrão.

Na escola, a História me fascinava. Talvez por me criar mais dúvidas do que certezas. Afinal, como é possível saber do que ocorreu antes de existir a escrita ou o gravador? Não existe regra de três para provar o que estava escrito... Na verdade a escola é que se limitava aí. Geografia foi um prefácio para o meu interesse por geopolítica.

Serviço secreto de inteligência dos governos e agências de comunicação conspiram em favor de corporações em troca de dinheiro e poder, corrompendo e chantageando políticos e lideranças. Os investidores financiam empresas para obter lucro, explorando trabalhadores e assimilando a concorrência. É preciso muita atenção. Os inimigos se camuflam e seus espiões lhe dão bom dia, e quem sabe, boa noite.

A população vive com medo em suas prisões particulares. As crianças aprendem a violência e a sexualidade cada vez mais cedo. Os adolescentes procuram entretenimento e drogas baratas para não encarar o desafio no jogo da vida. Os mais velhos vivem com medo da violência, do desemprego, por si e pelos seus.

Somos todos consumidores e mão de obra barata quando podemos ser (pelo menos) cidadãos. As informações estão por aí. É preciso paciência para não pescar uma bota ou um pneu furado nesse mar poluído. Aprendi que com as impurezas a ostra produz uma pérola.

O tempo vai passando, a escola acaba e agora não é mais sua mãe quem te sustenta. Ontem tinha uma família pra cuidar de você. Hoje você tem uma família pra cuidar. A vida é doce, mas não é mole, como a rapadura.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Hora de controlar a mente
Pro corpo suportar a dor
Bola sempre pra frente
Não é nenhum filme de terror

Escrever até alivia
Não sou criativo todo dia
Depois que voltar do transe
Espero te ver em êxtase

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Depois de driblar o medo
Que senti no avesso
Me conheci por fora
Isso me revigora

Um belo chute no balde
Sem minhas inconfundíveis botas
Não há nada que me salve
No fundo, pouco importa

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É só um período difícil
Nem todo dia nasce bonito
Não sei se vale o sacrifício
Só sei que não vou ser omisso

A lua sempre volta
Ninguém precisou prende-lá numa gaiola
As vezes a chamo de sol
Enquanto procuro saber quem sou
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domingo, 25 de novembro de 2012

Dani-se minhas tentativas frustradas
Meu singelo camarada
A vida tá escorrendo como rio
Desde o início dos meus vícios

Sabe aquele dia indigesto
Que vencer era inesperado
Eu juntei os dejetos
E resolvi o que estava errado

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Nova bossa de fatos

Saudade de um grande amigo
Um ombro se preparando pros pinos
Uma luta de rounds infinitos
Alguns laços rompidos

Um trabalho não concluído
Não sei cantar algumas partes do hino
Uma cobra no caminho
As vezes sou tratado como menino

Comendo patinho moído
Sem medo de ser corrompido
Não tenho mais o nariz entupido
Sempre sendo instintivo

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sábado, 24 de novembro de 2012

Nesse precipício em chamas
Desviando dos asteróides
E dos excessos de gana
Uma hora tudo se explode

Voando sem paraquedas
Não ouço o que você berra
Ao menos temos o texto pronto
Não leve a sério tudo que questiono

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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Instante

Contenho minha indignação
Por um revelador instante
Para seguir adiante
E me lotar de emoção

Observo esse momento
Absorvo novos elementos
Suspiro, reflito e sigo
Dentro do que investigo

Meu poder realiza-se ilimitado
E posso tornar todo o tempo
Num espaço delicado
Então finalmente me concentro

Não estou mais a mercê
Já sei o que posso antever
Restabeleço as conecções
Me preparo para reabrir os portões

Vejo que existem janelas
Algumas infelizmente decrépitas
Olha para uma vista singela
Vejo pessoas adeptas

Percebo que não estou só
Surgem os laços
Desfazem-se os nós
Conquistamos novos passos

A beleza da alma se subverte
O corpo enriquece
Ocupamos o mesmo lugar no espaço
Somos feitos de aço

Agora indestrutíveis
Como alimentos não perecíveis
Estamos no centro do planeta
Não aceitamos gorjeta

Calibramos os punhos
Finalizamos os rascunhos
Construímos obras de arte
Sem fazer muito alarde

Estamos imunes
Melhores do que nunca
Nada mais nos ilude
Acabou a bagunça

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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Meses de retrocesso
Sempre em abstinência
No meio do processo
Nem tudo é uma urgência

Tão inconstante
Como um mal contato
De agora em diante
Não perco o primeiro ato

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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O golpe da gota estrondosa

Quando as águas
Retrocederem
Minha magoa
Irá pro além

Tanta ressalva
Vidas prosperas
Prometo manter a calma
E até ouvir ópera

Desenganado
Com os pontos de vista
Tentem alerta-los
Deixando pistas

Um passo atrás
Em busca de sossego
Prometo nunca mais
Me fazer de cego.

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2km de ideias

Corro
Oxigeno a mente
Adorno o corpo
Fujo das serpentes
Acelero
Penso no que quero
Quebro barreiras
Não curto esteira
Transpiro
Abro os poros
Saio da inércia
Com novas ideias.
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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Nem todo desastre é natural.
A natureza-morta é do artista.
Há pessoas naturalmente desastradas.
O ser humano é um desastre natural.
A minha natureza de artista me mata.
A arte é imortal.

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sábado, 10 de novembro de 2012

Eu cobro
Sem dó
Nos escombros
No meio dos nós

Sou cobra
Mimada
Mãos a obra
Guinada.

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Quantas perdas
Que coincidência
Você não é mais a mesma
Por penitência?

Evolua!
Esteja feliz, nua
Que se dane a lua
Não sou moleque de rua

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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Haicais

Haicai rafa [1]

Se a persuasão não funciona,
A vida vira uma zona.
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Haicai rafa [2]

Camaleônico,
Me mantenho irônico.
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Haicai rafa [10]

Surpreenda o deselegante,
Com memória de elefante.
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Haicai rafa [6]

Se há fendas,
Nas pedras,
Há perdas.
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Haicai rafa [3]

Sem aura,
Nem o espírito salva.
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Haicai rafa [4]

Quem casa com patrão,
Tem mais respeito que irmão.
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Haicai rafa [5]

Alienou o filho,
E ajoelhou no milho.
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Haicai rafa [7]

Pintou o sete,
Mestre.
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Haicai rafa [8]

Sem motivos,
Sentimentos nocivos.
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Haicai rafa [9]

O capitalismo,
É um abalo sísmico.
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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sempre revisito
Meus arquivos
Pra mante-los vivos
Mesmo se forem esquisitos

Eu futuco
Meu passado
Pra achar meu futuro
Insensato

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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Uma multa
Pra gente avulsa
Que o peito não pulsa
E evita disputas

Que a mão não gela
E olho não treme
Nunca passou por mazelas
Não pega praia no leme

Sempre recalcado
Só usa a mão direita
Pra rimar com mal-amado
E acha cafona ser de esquerda.

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sábado, 3 de novembro de 2012

Um dia após o outro
Eu reflito
No espelho dos outros
E procuro o infinito

Esqueço a sorte
Deixo de lado o óbvio
Faço um belo corte
Já não estou mais sóbrio
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Repartição

Pensar que pobreza é incompetência é uma das maiores características do capitalismo.
Muito pertinente para um sistema que valoriza as disputas desonestas e as especulações que somente favorecem a centralização do poder.
Crises sucessivas são a prova de que esse sistema há um bom tempo já perdeu a mão, até porque (com o perdão do trocadilho) nunca teve tato.
Sou pró a informalidade e a autonomia. Sei bem a diferença de emprego e trabalho, mas isso é outro assunto.
A expressão "socializar" sempre me atraiu. Dispensa explicações.
Sempre que me peguei tendo mais do que precisava, vi que estava sendo coagido por um sistema que me "obriga" a ter muito, valorizar pouco e continuar infeliz em busca de sei lá o que.
Tenho mais (bem mais) de dez pares de tênis, dois pés e uma consciência pesada.
Não, não vou fazer voto de pobreza. Só estou atento. Me livrando dessa camada grossa de futilidades inúteis.
Eu sempre fui socialista. E sempre vou ser.
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Talvez não seja eu
Que dentro de mim
Sobreviva no breu
Ou nos confins

Tipo Fernando
Lotado de pessoas
Nem todos humanos
Nem tudo destoa

Virado do avesso
Me reconheço
Muitos acessos
Nada veio de berço.

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