domingo, 30 de junho de 2013

Pagamento

Chega de prêmios de consolação 
Nunca pedi palmas
Típico de quem canta uma canção
E não supera seus traumas 

Cheiros também atraem lembranças
De homéricas derrotas
Mesmo quando o carro enguiça 
Ou derrapa nas enumeras pistas

Corre energia na ferida aberta
O sangue não tem uma cor certa
Minhas artérias são caminhos  
De poréns, conteúdos e sonhos

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domingo, 23 de junho de 2013

Prol

Não há vultos
Apenas balas
No meio do tumulto
Abriram valas

Para corpos esbeltos
E descontentes 
Em busca do afeto
Rangendo os dentes

Deixados de lado
Pelos líderes fracassados 
Que se nascessem de novo
Continuariam falhando com o povo

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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Peito aberto

Agora  que estou blindado
Pela fundamental retórica 
Do meu novo passado
E por toda onírica 

Que me molda
Como argila 
Tenho meus pontos de solda
Carrego meus sonhos numa mochila

Orgulho das cicatrizes
Convicção da eterna dor no peito
Vandalizaram minhas raízes
Mas os tiros não fazem efeito.

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quinta-feira, 13 de junho de 2013

Palpitação

Tal como o chiclete 
A intermitente rima 
Versátil como canivete
Gruda como ima
Mostra toda potência 
O poder do verso
Exala fragrâncias
Tem a força dum urso
Atrai o oposto 
Repele a fraude 
Põe sorriso no rosto
Nos dá saúde 
Pra chegar mais longe
Envelhecer sem pressa 
Quando a curva tange 
E some a princesa
Sobra o caráter 
Admirável
Pra suster
O que vem através
Da palavra certa
No último minuto
Em que a aorta
Presta o luto
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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Principelho

Não pelo logradouro
Tampouco pelas vestes 
Mesmo sendo dinossauro 
Do tipo que nunca foi visto

Ainda que farrapo 
Sem pinta de príncipe
Idêntico ao sapo
Sem nenhum naipe

Mesmo assim
Mantenho a confiança
Num estreito trampolim
Bem longe da bagunça 

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domingo, 9 de junho de 2013

Póstumo

Não celebro
Embaixo dos escombros 
Não sou uma pessoa macabra
Sei que pode dar zebra

Fico calado
Gritando por dentro
Mesmo se não for escalado
Jogo no centro

Quero usar minha fama
De gamer
Pra sair desse coma
E voltar a crescer 
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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Pântano

Posso até dar uma pausa
Nos palavreados 
Pra honrar as calças 
Ou para não ser vaiado 

Não identifico-me com essa platéia 
Nesse palco imposto
Jogaram-me tomates e areia 
Mas ainda enxergo meus restos

Firme no léxico adquirido
Como os percalços da alma
Não é fácil ser querido
Quando se está com o pé na lama

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Dia comum

Lendo Leminski
No caloroso frio
Ponho um whisky 
Perco o freio

Faço um desenho
Sobre um sonho
É um dom que tenho
Pode parecer estranho

Reparto o pão
Com que merece
Não sou cristão
Como você 

Que não goza
Por achar ardiloso 
Tampouco ousa
E se faz de bom moço

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